Adestramento do Cavalo Marchador

 

Conceitos básicos

Prof. Mário Alino Barduni Borges

Entendemos como adestramento do cavalo, todo e qualquer treinamento empreendido a partir do momento em que o mesmo permita satisfatoriamente a nossa presença sobre o seu dorso. A partir de então, estaremos dando início a um processo contínuo de aprendizado em que ações e experiências serão constantemente compartilhadas entre o animal e seu cavaleiro.


Para que tal empreitada possa ter perspectivas de sucesso, o treinador (peão) deverá ser possuidor de uma ampla bagagem de conhecimentos teóricos e práticos que lhe propiciem os recursos técnicos necessários para a correta execução do trabalho proposto. Desta forma, este artigo tem por objetivo procurar esclarecer alguns conceitos teóricos que julgamos serem básicos e fundamentais para a capacitação do cavaleiro na formação de um cavalo de sela bem adestrado e verdadeiramente funcional.

01 - EMBOCADURAS

Entendemos por embocadura, todo instrumento introduzido na boca do cavalo com o objetivo de propiciar ao cavaleiro a sua condução. Esta ação ocorre sob os comandos de mãos emitidos através das rédeas. Estes, nunca deverão ser os únicos empregados para tal fim, mas sempre utilizados em concordância com as ajudas de perna, corpo e voz.
Basicamente, temos dois tipos clássicos de embocaduras, o bridão e o freio, com suas respectivas peculiaridades. Estas estão diretamente relacionadas a modelos, pontos de articulações, materiais, espessuras e tipos de bocado, tamanho das alavancas (freio), entre outras, que definiram a especificidade de sua ação e conseqüente recomendação.

Bridão: caracteriza-se por ter as rédeas e a cabeçada atadas em uma mesma argola, que deverá estar situada na mesma altura do bocado (parte do equipamento que trabalha dentro da boca do animal). Desta forma, a sua ação se faz direta, sem o efeito multiplicador de forças que encontramos através da ação das câimbras (alavancas) existentes no freio. Atua nas comissuras labiais, devendo ser ajustados a elas e sua ação se caracteriza pelo levantamento da cabeça e pescoço do cavalo.

Freio: apresenta argolas diferenciadas para a cabeçada e rédeas, além de ter o seu bocado situado numa posição acima do ponto de fixação das rédeas. Estas características fazem com que as câimbras existentes neste tipo de embocadura, atuem como alavancas, criando desta forma um efeito multiplicador de forças. Não podemos esquecer de mencionar a presença da barbela como acessório indispensável neste tipo de equipamento. Atua nas barras, região da mandíbula desprovida de dentes e possui ação abaixadora da cabeça, além de induzir o flexionamento da nuca.

02 – EFEITO DE RÉDEAS

Para o adestramento básico do cavalo marchador, serão três os efeitos de rédeas a serem utilizados com mais freqüência, a saber:

Rédea Direta de Abertura: Empunhando cada rédea com uma mão, este efeito deverá ser o primeiro empregado no trabalho de adestramento, pois facilitará o entendimento por parte do cavalo com relação às nossas intenções. É chamada de direta, porque a rédea que atua (ativa), está do mesmo lado para o qual se deseja o movimento do cavalo. De abertura, porque se age, “abrindo” a rédea ativa em relação ao eixo longitudinal do animal. A outra rédea (reguladora), como o próprio nome já indica, será a responsável pelo “controle” da intensidade do movimento. Com base nestas ações, o cavaleiro terá recursos para indicar à sua montaria, a direção desejada.

Rédea Contrária: Atuando sobre a tábua do pescoço, possui este nome porque impele para o lado contrário o pescoço e espádua do animal, chamada, portanto de mestra da espádua. A rédea contrária direita atuará sobre o lado direito do pescoço, volvendo o animal para a esquerda, enquanto a rédea contrária esquerda terá atuação oposta a citada anteriormente. Para condicionarmos o cavalo a atender a este comando, devemos passar a abrir cada vez menos a rédea de abertura ativa e aproximar a rédea reguladora à tábua do pescoço do animal, substituindo gradativamente o efeito desta pelo da rédea contraria. A partir do momento em que o cavalo atender satisfatoriamente ao novo comando, passamos a empunhar as duas rédeas numa só mão, usualmente a mão esquerda.

Rédea Direta de Oposição: Sua nomenclatura se relaciona ao fato de se opor ao movimento “para frente” do cavalo. Atuando paralelamente ao eixo longitudinal, o cavaleiro traciona a rédea ativa, que bloqueia a espádua do mesmo lado, bloqueando conseqüentemente a garupa. A mão da rédea ativa age mais alta que a reguladora. Este efeito faz com que a garupa se desvie para o lado oposto ao da ação da rédea, chamada por isto de mestra da garupa. É normalmente utilizado para encostar o animal em porteiras, corrigir um desvio no recuo e também para auxiliar nos exercícios de engajamento dos posteriores.

03 – CONTATO E APOIO

O desenvolvimento de uma correta relação entre contato e apoio exige uma ação mútua entre cavaleiro e cavalo, sendo indispensável ao conjunto para que este consiga atingir uma performance satisfatória no decorrer dos trabalhos de adestramento.

O contato pode ser definido como sendo a comunicação exercida entre as mãos do cavaleiro e a boca do cavalo, promovida pelo cavaleiro através do correto ajuste das rédeas.

A importância do contato se deve a necessidade de passarmos os comandos à boca do animal através do correto ajuste das rédeas e para que, a partir deste, o mesmo possa ter “segurança” e “confiança” para apoiar-se adequadamente na embocadura.

O apoio é a pressão exercida pelo cavalo em resposta à ação das rédeas devidamente ajustadas pelo cavaleiro. A necessidade do apoio vem do fato de o cavalo ser um animal debruçado em seus membros anteriores e a presença da sela e do cavaleiro sobre o seu dorso reforçarem ainda mais esta sobrecarga natural. Apoiando-se na embocadura, o cavalo adquire um “ponto de equilíbrio” que lhe permite deslocar com maior naturalidade, confiança e desenvoltura, podendo assim atingir uma melhor qualidade no aprimoramento de suas andaduras naturais (passo, marcha e galope).

Desta forma, chegamos a conclusão de que o apoio deverá ser franco, porém suave, não trazendo desconforto ao cavalo e nem ao seu cavaleiro. Portanto, podemos afirmar que é tarefa do cavaleiro regular a pressão do apoio a partir do contato exercido pela ação de suas mãos sobre as rédeas.

04 – DESCONTRAÇÃO DO MAXILAR

A descontração do maxilar do cavalo é essencial no trabalho de adestramento para que ele possa assumir uma atitude correta, sem apoiar-se de forma pesada na embocadura. Para condicionarmos nossa montaria a tal descontração, passamos a “dedilhar” as rédeas com os dedos, promovendo uma massagem nas comissuras labiais e nas barras. Esta ação ocorre alternando-se os momentos de atuar e ceder das mãos, alternado-se também o lado da ação. É importante que as mãos do cavaleiro atuem em sincronia com o ritmo do movimento do cavalo. A resposta apresentada a esta ação será a descontração do maxilar do cavalo, manifestada através do ato de mascar a embocadura, o que ocasionará intensa salivação com conseqüente relaxamento da mandíbula e alívio do apoio.

05 - ATITUDE

Já sabemos que a presença da sela e do cavaleiro sobre o dorso do animal reforça a sobrecarga natural que o mesmo apresenta em seus membros anteriores. No adestramento, buscamos através da obtenção da atitude, devolver ao cavalo o seu “equilíbrio natural”, permitindo ao conjunto a execução das figuras com desenvoltura, elegância e naturalidade. A obtenção da atitude se manifesta através do posicionamento específico de algumas regiões zootécnicas do cavalo, promovendo algumas mudanças de postura em seu corpo, a saber:

Elevação da Base do Pescoço: Ocorre através do aumento da impulsão, com a projeção do cavalo para frente e a conseqüente resistência das mãos nas rédeas. Desta forma, obtemos uma maior sustentação do pescoço, que se eleva e se arredonda (encurva).

Flexionamento da Nuca: Também ocorre em função do aumento da impulsão e resistência das mãos. Através de uma correta descontração do maxilar, o cavaleiro tem recursos para mobilizar a cabeça do cavalo, ajustando-a para trás com conseqüente recuo em seu ponto de equilíbrio.

Engajamento dos Posteriores: Quando o cavalo flexiona a nuca ocorre o estiramento do “ligamento nucal”, o que promove um arqueamento dorsal da coluna, tornando-a mais flexível tanto longitudinalmente, quando lateralmente. Este arqueamento resulta no abaixamento das ancas e conseqüentemente no maior engajamento dos membros posteriores, trazendo para ele parte da sobrecarga do antemão.

A atitude a ser assumida pelo cavalo irá variar em função do grau de reunião necessário para a realização das figuras a serem executadas. O importante é termos consciência de que a atitude, principalmente a mais reunida, requer um grande esforço muscular e, portanto, a sua permanência por períodos prolongados irá causar um grande desconforto para o animal. Devemos procurar condicionar corretamente a nossa montaria; aquecer devidamente sua musculatura no inicio do trabalho; evitar a atitude por períodos prolongados e promover no início, no final e em intervalos ao longo das sessões de treinamento, o exercício de extensão do pescoço.

06 – EXTENSÃO DO PESCOÇO

Utilizamos este exercício para promover um relaxamento dos músculos requisitados na obtenção da atitude, responsáveis pela elevação da base do pescoço e da postura flexionada da nuca. Sua indicação se dá em diversas fases do trabalho montado: no início da sessão, para promover o aquecimento; durante a sessão, em intervalos que iram variar em função do grau de reunião dos exercícios e do condicionamento do cavalo; ao final da sessão para promover o alongamento necessário antes de encerrarmos o treinamento e desmontarmos do animal.


Solicitamos a extensão do pescoço do cavalo, através do “dedilhar das rédeas” com conseqüente descontração do maxilar e busca do apoio por parte do animal. Neste momento, o cavaleiro cede as mãos, fazendo com que o cavalo estenda continuamente o seu pescoço na busca de um apoio impossível. A manutenção de um leve contato é indispensável para que o cavalo continue a buscar constantemente este apoio e não interrompa a execução do exercício.


O objetivo desta tarefa não se restringe somente à extensão do pescoço, mas a um completo alongamento da coluna vertebral do cavalo, extremamente sobrecarregado nos trabalhos montado. Este exercício, se utilizado corretamente e de forma rotineira, irá permitir uma manutenção da atitude por períodos cada vez maiores, além de preservar a integridade física do cavalo, prolongando a sua vida útil.

07 – SENSIBILIDADE E BOM SENSO

Como último tópico a ser abordado gostaria de ressaltar a importância de o cavaleiro procurar desenvolver a sua sensibilidade, qualidade tão necessária na execução de uma correta avaliação das “reações” apresentadas pelo cavalo no decorrer dos trabalhos de adestramento. Também é imprescindível que o mesmo utilize o bom senso na hora de programar as sessões de treinamento a serem impostas ao animal. Saber identificar as “qualidades” e respeitar as “limitações” de sua montaria são virtudes que somente serão aprimoradas com base nos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos e na experiência acumulada através do contato diário com este nobre animal, o nosso cavalo marchador.

* O autor é professor de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, Árbitro de Marcha, Proprietário, Treinador e Instrutor de Equitação do CENTREQUE - Centro de Treinamento Eqüestre da Chácara Santa Rita, localizado na cidade de Viçosa / MG.

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