Provas Funcionais

 

Roberto Naves . Árbitro da ABCCMM . rnaves@gold.com.br

 

Me lembro bem do tempo em que as provas funcionais eram ponto alto nas exposições de animais. Eliminatórias todos os dias, disputas acirradas para se chegar às finais. Na época não havia ainda o livro de registro para animais castrados. Eram mesmo éguas e garanhões que se revezavam, se dando ao máximo sob nossa conduta. Bons tempos, sim, pela “farra” que fazíamos nas pistas, as brincadeiras, as amizades. Mas os cavalos, coitados! Estes sofriam em nossas mãos. E isto precisava ter fim.

 

Revendo alguns registros fotográficos, memórias duras mas verdadeiras, assusto hoje com a forma brutal com a qual executávamos nossos cavalos. Eram trancos e mais trancos na boca, esbarros agressivos e sem técnica. As curvas fechadas em torno das balizas, com uso de rédeas diretas - mais pareciam tortura que ajudas - tudo isso sem mesmo um sinal de pernas, que preparasse o animal para a próxima manobra.

 

E o treinamento desses cavalos, mais torturas! A falta de aquecimento, de rotina de treinamentos, de técnicas de adestramento. Transformávamos os animais em verdadeiros loucos, que fugindo de chibatadas corriam para a frente, curvavam para um lado e outro, sob mais trancos e agressões.

 

As embocaduras, verdadeiras armas de tortura. Sob tudo isto, ainda tinham aqueles animais que, por não atenderem prontamente aos “comandos” que lhes eram impostos, eram espancados a chicotadas. Realmente, precisava ter fim. 

 

E foi esta falta de técnicas, sem dúvida, que causou danos e lesões irreparáveis a alguns animais. Foi esta equitação empírica, afoita e desastrosa que acabou por afastar das pistas bons animais de provas. Acabaram-se as “farras”, as brincadeiras... Mas teve fim também a era das torturas e agressões.
Não era por mal que cometíamos as atrocidades, registradas em fotos e filmes que reavivam nossa memória. Faltavam o saber, cultura eqüestre, conhecimento e técnica.

 

Vejo surgir hoje uma nova era. Acompanhando de perto as provas disputadas nas duas últimas exposições nacionais da raça Mangalarga Marchador, pude atestar o quanto os cavaleiros evoluíram, melhoraram sua equitação, passaram a fazer uso de técnicas. As escolinhas espalhadas pelo país afora, fundadas por núcleos e clubes de cavalos, fizeram surgir jovens talentos, que hoje brilham nas pistas, demonstrando com garra as verdadeiras virtudes de nosso Marchador.

 

 

Mas não podemos parar por aí. Cada segmento pode e deve atuar, de maneira a trazermos novamente para as pistas as emoções das provas funcionais, diferenciadas do passado pelo uso de técnicas corretas de equitação.

 

Fazendo parte do quadro de instrutores da  Escola de Marcha e Adestramento ( E.M.A.),  tenho certeza das possibilidades de nosso cavalo e dos cavaleiros que orientamos. É interesse da nossa Escola, referendada pela A.B.C.C.M.M., incentivar o ressurgimento das provas funcionais, comprovando na prática o potencial funcional de nosso cavalo. Precisamos trocar a já cansada palestra de que o M.M. faz e acontece, e fazê-lo realmente acontecer. Torná-lo competitivo no mercado, para as provas funcionais de natureza variável a que se propõe a raça. Quer seja para o enduro, o salto clássico ou hipismo rural, apartação, vaquejada, enfim, além das provas funcionais propriamente ditas, para as quais temos regulamentos oficiais e croquis, e hoje mais ainda, temos cavalos, cavaleiros e técnicas disponíveis.

 

A EMA pode contribuir positivamente para o sucesso desta investida, fazendo assim a parte que cabe à Associação: levar a seus associados os conhecimentos e técnicas necessárias para aprimorar cavaleiros, incentivando de forma correta um esporte sadio, que congrega famílias, anima exposições, estimula e projeta jovens cavaleiros na prática desportiva. E tem ainda como fruto indireto deste trabalho a confirmação do potencial verdadeiro do MM na função de esporte. Que voltem as “farras”, as brincadeiras, as amizades, trazendo junto técnicas de equitação corretas e performances desejáveis para os cavalos de nossa Raça.

 

 

O conteúdo acima expressa a opinião do autor sobre o assunto. Caso você deseje complementar ou até mesmo discordar do tema sua opinião técnica também será publicada aqui.

Equipe - Empório do Criador


 

 

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